Pacientes que sobreviveram a Covid-19 relatam a angústia da falta de leitos

Por Redação
27/03/2021 11:59
Atualizado há 3 anos
Foto: Rosi Rodrigues
Foto: Rosi Rodrigues
Foto: Rosi Rodrigues

O pastor Josué Ferreira, de 43 anos e o motorista Olair da Silva Santos, 49 anos, não se conheciam quando foram contaminados pela Covid-19. O primeiro encontro foi em uma Unidade de Pronto Atendimento, onde passaram dias difíceis e traumatizantes a espera de leitos de UTI. Eles são sobreviventes, saíram com vida desse desafio cruel, que já fez mais de 260 vítimas na região de Umuarama.

Foi no PA de Umuarama que o pastor Josué e o motorista Olair se viram pela primeira vez.  “Quando cheguei, o Josué já estava lá. O lugar estava cheio e precisaram arrumar um cantinho pra mim. No momento que dei entrada lá, um paciente estava sendo socorrido. Os médicos e enfermeiros fizeram de tudo, mas ele acabou morrendo na minha frente. Foi o pior momento da minha vida. Pensei que iria morrer ali também”, relatou o motorista.

Olair começou a sentir sintomas da Covid-19 no dia 04 de março e procurou a Unidade de Saúde do seu bairro, onde foi orientado a ficar em isolamento e a fazer o teste para confirmar a doença, que foi agendado e colhido no dia 8, na Tenda. Nos dias que se seguiram os sintomas foram se agravando e o motorista começou a sentir muita falta de ar. No dia 12 de março, depois de ver que o marido estava agonizando sem ar, a esposa de Olair chamou o SAMU, que o levou imediatamente para o Pronto Atendimento.

“Fiquei seis dias no Pronto Atendimento, naquele cantinho, implorando uma chance para sobreviver, esperando um leito no hospital. Nesse período, três pessoas que estavam lá também, perderam a vida. E, a cada momento era alguém entrando. Não tinha espaço para mais ninguém. E eu? Eu me sentia cada vez pior. Era como se as forças estivessem deixando o meu corpo”, conta em tom de lamento o motorista.

Do outro lado da Ala, estava o Pastor Josué, que passava pelas mesmas dores físicas e emocionais e havia dado entrada horas antes.

Josué começou a sentir sintomas de Covid no dia primeiro de março. “Procurei a Tenda no mesmo dia. Lá pediram para eu voltar no dia 5 – sexta-feira. Porém na quinta, eu comecei a passar muito mal. Procurei um laboratório particular, fiz o exame, que deu positivo. Voltei a Tenda, me passaram medicamentos e me mandaram voltar pra casa. Fui piorando, piorando… Fiz uma radiografia também em um laboratório Particular, que constatou comprometimento de 40% dos pulmões e que, a doença estava evoluindo”, conta.

Com o exame em mãos, Josué voltou a Tenda em busca de socorro. Ele precisava ser internado imediatamente. Contudo, não havia vagas em nenhum hospital de Umuarama, nem da região. Nem mesmo no Pronto Atendimento tinha leitos disponíveis. “Fiquei cerca de seis horas na Tenda, aguardando uma vaga no Pronto Atendimento”, relata.

Josué também ficou no PA de Umuarama por seis dias a espera de um leito de UTI em um hospital. “Foi angustiante. Um dia me disseram que havia uma vaga no Hospital Uopeccan e que eu seria levado pra lá. Foi um alívio. Porém, logo voltaram e disseram que o leito havia sido destinado para um paciente ainda mais grave. Foi desolador”, relembra o Pastor.

As forças e as esperanças desses dois jovens pais de família estavam prestes a acabar, quando o socorro chegou.

“O Dr. Ronaldo de Souza havia sido chamado lá para remover o Josué, que estava cada dia pior e corria o risco de morrer. Não havia leitos no Hospital para todos e vimos o desespero do médico, que estava sendo obrigado escolher quem iria levar. Quando ele passou do meu lado, eu pedi: ‘Doutor, pelo amor de Deus, não me deixa aqui’. Foi aí, que ele saiu às pressas. Ninguém sabia o que ele iria fazer. De longe víamos que ele estava falando ao telefone. Depois de uma meia hora, eu, o Josué e outros três pacientes fomos levados para o Hospital Cemil. Foi nesse momento que eu e o Josué nos conhecemos. Fomos juntos na mesma ambulância”, conta Olair.

Com os novos pacientes trazidos do PA, o Hospital Cemil, que já estava lotado, ultrapassou sua capacidade de atendimento. Todo o sistema de saúde público e particular da região estava em colapso. Umuarama vivia seus piores dias na Pandemia.

Chegando ao Hospital, Josué e Olair foram direto para UTI e imediatamente entubados. Cerca de quatro dias depois, o quadro de saúde deles evoluía bem, ambos foram retirados dos aparelhos e depois transferidos para a mesma enfermaria.

No quarto do hospital, o Pastor e o Motorista descobriram que passaram juntos pelas mesmas dores e angústias e que são sobreviventes. Uma nova amizade nasceu ali. “Deus certamente tem um propósito em nossas vidas e essa nova e forte amizade, é um sinal disso”, destacou Josué.

Para ele, a vida é um milagre. “Eu sobrevivi. Muitos morreram enquanto isso. O Dr. Ronaldo e sua equipe foram verdadeiros anjos e salvaram nossas vidas. Se estamos vivos, é graças a eles e a misericórdia de Deus”, diz o Pastor, muito emocionado.

Olair diz que é prova viva de um milagre e faz um apelo. “Vamos respeitar, vamos amar nossas famílias. Vamos ficar em casa”, implora.

Pouco antes de deixarem o hospital, Olair e Josué gravaram vídeos. Confira os depoimentos dos sobreviventes, na íntegra.

 

 

Assessoria/Rosi Rodrigues

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